Arquitetos
Localização
Av. Otacílio Negrão de Lima - Pampulha, Belo Horizonte - MG, BrasilArquitetos responsáveis
Gabriel Velloso da Rocha Pereira, Luiz Felipe de Farias, Marcelo Palhares Santiago (desenvolvimento executivo: Ø Arquitetos)Coautor
Fernando Luiz LaraColaboradores
Carolina Eboli, Lorena Coscarelli, Larissa Nunes, Mateus Castilho, Natália Freitas, Nina ApparicioEstagiários
Dayane Coelho, Isabela Ziviane, Laila Faria, Maria Del Rocio Gonzalez Ferraez, Natália Oliveira, Waleska Campos RabeloAno do projeto
2014Fotografias
Courtesy of Horizontes Arquitetura e Lucas Silva
Dos arquitetos: No inicio dos anos 40, na primeira metade do século XX, o passeio de Niemeyer e JK pela margem desocupada da lagoa da Pampulha mudaria a imagem de Belo Horizonte, Minas Gerais e do Brasil para sempre. A partir deste encontro Kubitschek concebeu e Niemeyer projetou o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, que foi construído em 1942 e em 2016 foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade.
O edifício do Cassino, atual MAP-Museu de Arte da Pampulha, faz parte do conjunto da Pampulha, juntamente com a Casa do Baile, o Iate Clube, a Igreja de São Francisco e um hotel que não chegou a ser construído. O funcionamento do edifício como Cassino foi interrompido em 1946, quando foram proibidos os jogos de azar no Brasil. O prédio ficou sem uso até 1957, quando foi transformado no MAP.
Embora o edifício do MAP/Cassino tenha passado por uma série de reformas ao longo de sua história, ele ainda carece de obras de restauração e adaptações para melhor funcionamento como museu.
Entre 2012 e 2014 a Horizontes Arquitetura e Urbanismo desenvolveu um projeto completo de restauração para o MAP/Cassino, que terá obras iniciadas em breve. Mas, mesmo após estas reformas, o MAP não oferecerá condições adequadas para guarda e exposição de obras de arte. Seus grandes salões envidraçados não oferecem controle de luz, umidade e calor. Sua reserva técnica, adaptada no 'subsolo', é tecnicamente inadequada e não tem espaço suficiente para todo o acervo.
Para pleno funcionamento como museu, o MAP depende da criação de um espaço de apoio, um Anexo, que ofereça espaços e condições necessárias para funcionamento de um museu moderno. Para atender a esta demanda, a Horizontes Arquitetura desenvolveu o projeto do Anexo do MAP, a pedido da prefeitura de Belo Horizonte, tendo o MAP e a Fundação Municipal de Cultura como clientes finais.
Uma das principais premissas para o projeto do Anexo era atender às demandas dos grandes museus estrangeiros, que exigem condições rigorosas de conservação e segurança para permitir o envio de seus acervos para exposições temporárias. O projeto do Anexo foi planejado de acordo com estes princípios, possibilitando que o novo edifício possa receber o acervo permanente do MAP, além de obras consagradas de artistas estrangeiros, viabilizando a inclusão de Belo Horizonte no circuito das principais exposições internacionais.
O terreno para construção do Anexo localiza-se em frente ao Museu de Arte da Pampulha, na orla da Lagoa da Pampulha. Ele pertence à Prefeitura de Belo Horizonte e encontra-se desocupado e sem uso, salvo esporádicas intervenções de arte e eventos do MAP.
Uma grande dificuldade para o projeto foi imposta pela legislação municipal que restringe a altura do edifício, devido à proximidade com o aeroporto da Pampulha, e limita a profundidade de subsolos, devido à proximidade com a lagoa e lençol freático. Além disso, o terreno era muito pequeno para um programa de necessidades extenso, que previa: sala de exposição, laboratórios de pesquisa e restauração, reservas técnicas para esculturas, pinturas e papeis (com previsão de ampliação do acervo), centro de documentação, administração, oficinas de montagem, foyer e espaços de apoio (cafeteria, loja, sanitários públicos e vestiário de funcionários).
Estas restrições, aliadas à imposição de poucas aberturas (de forma a garantir proteção contra radiação solar, umidade e controle de temperatura), direcionaram a uma volumetria sólida e compacta. O Anexo surgiu então de volumes prismáticos fechados, cuja unidade simbólica é dada pelo brise da fachada frontal, voltado para a avenida e para o Cassino/MAP.
O acabamento em brises horizontais tem função de sombrear os grandes painéis de vedação (diminuindo a temperatura interna do edifício), além de função compositiva. Rasgos aleatórios nos brises emolduram ‘janelas’ com visadas para o MAP, e contribuem para aparência de movimento e leveza do edifício.
Para diminuir a sensação de ‘peso’ do volume foram criados espaços ‘vazios’ de uso público, estrategicamente posicionados entre os volumes do prédio. O terraço, localizado na cobertura do prédio, poderá receber exposições ao ar livre e eventos como coquetéis e lançamentos de exposição, aproveitando da privilegiada vista para a lagoa. O pilotis, com cafeteria, tem acesso independente e é aberto direto para a rua, também com vista para lagoa e Cassino/MAP. Um anfiteatro, localizado na rua lateral, permite o uso para eventos do MAP, ao mesmo tempo que estimula a apropriação pela população.
Os volumes dos fundos terão estética sóbria. Serão construídos em alvenaria e revestidos por telhas zipadas industriais cor cinza neutro, garantindo total isolamento térmico e proteção contra umidade nas reservas técnicas e laboratórios.
O bloco principal será revestido em granito verde bruto, com paginação vertical de 50cm, repetindo a paginação das janelas e pedras da fachada do Cassino/MAP. A cor verde-azulado da fachada é inspirada nas pinturas de Guignard e sua estratégia clássica de pintar a paisagem no pano de fundo de uma obra se fundido com o céu e se tornando azulada à medida que se aproxima do horizonte.
A ideia é que o Anexo, visto de longe, se mimetize com a paisagem, servindo de pano de fundo para que o Cassino/MAP continue dominando a cena. Enquanto os edifícios originais do conjunto da Pampulha foram dispostos em posição de destaque na paisagem, o Anexo do MAP se faz discreto e silencioso por fora, em reverência a seus nobres vizinhos. Discrição importante para um museu, pois o destaque deve obras de arte.
Ao mesmo tempo, o novo Museu revela sua identidade única e marcante, quanto mais se aproxima pela Avenida. O uso de formas angulares e materiais contemporâneos darão ao Anexo uma linguagem contemporânea e identidade própria.
Fora as dificuldades técnicas, o maior desafio ao projetar o anexo para o MAP foi pensar um edifício que fosse uma homenagem a Niemeyer e ao conjunto moderno da Pampulha. O projeto do Anexo se inspirou em algumas referências marcantes das obras de Niemeyer como: liberdade estrutural, brises e, principalmente, rampas escultóricas.
No Cassino, Niemeyer desenhou a rampa como elemento central, um espaço de movimento onde nas suas palavras “a burguesia se exibe elegantemente”. A rampa, inserida perpendicular ao eixo de entrada, coloca o Cassino um grau acima da Villa Savoye de Corbusier que lhe serve de precedente. No Anexo, a rampa, colocada paralelamente ao volume principal, diminui o impacto da massa do novo edifício ao fazer com que o visitante percorra parte do terreno apreciando a vista da lagoa e do MAP/Casino.
O Anexo do MAP faz então uma homenagem ao Cassino ao mesmo tempo em que absorve as funções para as quais este edifício, paradigma da arquitetura moderna, não está preparado: grandes exposições com luminosidade e opacidade controladas. O grande salão de exposição terá mais de 90m lineares de paredes 'cegas' para exposição, além de pé direito de 5,4m.
O Cassino/MAP ficará então liberado para servir de espaço para eventos (sua função original) e instalações de arte contemporânea (que não exigem controle de temperatura, umidade e radiação solar). Enquanto isso, o Anexo do MAP assumirá o papel de maior museu público de Belo Horizonte e passará a receber exposições do acervo e grandes exposições internacionais.